REFLEXÕES ENTRE BORDADO, TEMPO E MEMÓRIA FEMININA

Por Karen Grimmer | 22 set 2020.

O tempo de um bordado pode ser contabilizado de muitas formas. Há quem considere apenas a agulha que entra e sai do tecido e um cronômetro ao lado. Porém, o trabalho manual vai muito além do tempo de execução dos pontos. Aqui, veremos que refletir sobre o tempo pode nos levar a uma percepção não quantitativa mensurada pela força dos significados.

Além da técnica e do número de horas todo trabalho manual carrega sempre uma história. Essa narrativa que confere significado ao objeto é o que aproxima a arte têxtil artesanal às artes plásticas. Nesse sentido, mais do que o tempo linear do fazer, importa o valor humano: quem faz, porque faz ou quais são os valores simbólicos e culturais da obra do artista-artesão.

Percebe-se que o tempo do relógio parece restringir o real valor das peças bordadas à mão. Isso não quer dizer que as horas e horas de execução devam ser desvalorizadas, mas elas ainda não contam a história toda. Afinal, o valor humano não se mede em números, não é mesmo? Como se contabiliza o valor dos seus significados? Desconsiderar a história daqueles por trás de uma peça feita à mão é apagar memórias e afetos. O poder do bordado e de outras técnicas manuais é nos levar para esse lugar fora do tempo, em que se resgata uma tradição ancestral conferindo novos sentidos e criando novas formas no momento presente. O tempo aqui é moldado pela intensidade das emoções de quem vê ou vivencia esta experiência.

O bordado como técnica intimamente feminina, e que por muitas gerações foi passada de uma mulher à outra, é percebido como fruto deste lugar longínquo, mas que atualmente entrelaça, tece e manuseia novas experimentações do mundo contemporâneo.

Para citar como exemplo, nas experimentações da marca Grimmer artistas mulheres do passado – apagadas da memória de quem contou a nossa História até agora – são referência e inspiração para interpretações visuais em forma de bordado.

Nessas representações desfaz-se noções do tempo linear e abre-se ao universo do atemporal, do cíclico e do sensível, em que a história da(s) mulher(es) encontra espaço para ser contada interligando passado e presente. Assim, a força das histórias femininas por trás de cada bordado feito à mão é uma medida mais exata do tempo, pois o que importa é contabilizar o valor dos seus significados.

KAREN GRIMMER é a designer-fundadora da Grimmer, que faz camisaria com estampa autoral que ela desenvolve, focada geralmente em artistas mulheres. Atualmente a atuação da Karen se amplia, com bordados e estampas por encomenda, e design gráfico e de conteúdo para outras empresas e pessoas; além de fazer parte do movimento latino-americano de moda sustentável MOLA, como representante Brasil (Voz do#UniversoMOLA Brasil). @universomola

Esse artigo faz parte da publicação do artigo do Brasil no blog MOLA de abril/2020.

Foto: Karen Grimmer @kagrimmer